07/01/2025
05:55:15 AM
Suprema Corte dos EUA autoriza pais religiosos a
retirarem filhos de aulas com livros LGBT
A Suprema Corte dos EUA decidiu, na
sexta-feira (27), em favor de pais cristãos do estado de Maryland que
processaram o distrito escolar para garantir o direito de manter seus filhos do
ensino fundamental fora de aulas em que são utilizados livros infantis
com personagens LGBT.
Eventos cristãos
Em uma decisão por 6 votos a 3, os juízes da Suprema Corte
revogaram o parecer de um tribunal inferior que havia recusado exigir das
escolas públicas do Condado de Montgomery a oferta de uma alternativa para que
os alunos não participassem dessas aulas.
O tribunal inferior havia rejeitado a alegação de um grupo
de pais, que afirmava que a política do distrito escolar – ao impedir essa
dispensa – violava o direito ao livre exercício da religião garantido pela
Primeira Emenda da Constituição dos EUA.
“Hoje, sustentamos que os pais demonstraram ter direito a
uma liminar. Um governo sobrecarrega o exercício religioso dos pais ao exigir
que eles submetam seus filhos a uma instrução que representa ‘uma ameaça muito
real de minar’ as crenças e práticas religiosas que os pais desejam incutir”,
escreveu o juiz conservador Samuel Alito, autor da decisão.
Os juízes conservadores do tribunal estavam em maioria e os
juízes liberais discordaram da decisão.
Proteção à liberdade de expressão
A Suprema Corte tem ampliado, nos últimos anos, os direitos
de pessoas religiosas, inclusive em casos que envolvem questões relacionadas à
comunidade LGBT.
Um exemplo marcante ocorreu em 2023, quando o tribunal
decidiu que determinadas empresas, amparadas pelas proteções à liberdade de
expressão da Primeira Emenda, podem se recusar a prestar serviços para casamentos entre pessoas do
mesmo sexo.
Em 2022, o conselho escolar do Condado de Montgomery aprovou
a inclusão de livros infantis com personagens LGBT no currículo de língua
inglesa, com o objetivo de refletir de forma mais fiel a diversidade familiar
presente na comunidade local.
Os livros de histórias estão disponíveis para os professores
usarem “junto com os muitos livros já existentes no currículo que apresentam
personagens heterossexuais em papéis de gênero tradicionais”, disse o distrito
em um documento.
O distrito informou que encerrou a possibilidade de
dispensar alunos dessas aulas em 2023, após o aumento expressivo dos pedidos
tornar a medida inviável do ponto de vista logístico.
Além disso, surgiram preocupações com o potencial de
“estigma social e isolamento” entre os estudantes que se identificam com os
livros ou que veem neles a representação de suas famílias.
O distrito ainda permite a exclusão de unidades de educação
sexual em aulas de saúde.
Os autores da ação – pertencentes às comunidades muçulmana,
católica romana e ortodoxa ucraniana – alegaram que os livros adotados promovem
uma visão unilateral sobre identidade de gênero, incentivam a transição de
gênero e dão ênfase excessiva à temática romântica, tudo isso sem a devida
notificação aos pais ou possibilidade de exclusão dos alunos das aulas.
Valores e práticas religiosas
Os autores argumentaram que a Primeira Emenda garante seu
direito de transmitir aos filhos valores e práticas religiosas, incluindo
crenças sobre gênero e sexualidade, consideradas “cruciais para a capacidade de
seus filhos de realizar as aspirações religiosas relativas ao casamento e à
família”.
O processo foi movido por um grupo de pais – entre eles
Tamer Mahmoud, Enas Barakat, Chris e Melissa Persak, Jeff e Svitlana Roman –
com o apoio do Becket Fund for Religious Liberty, um grupo jurídico de perfil
conservador.
A ação também contou com a participação da organização Kids
First, que defende o direito de exclusão em escolas do Condado de Montgomery.
Em 2024, o Tribunal de Apelações do 4º Circuito dos EUA,
sediado em Richmond, Virgínia, rejeitou o pedido de liminar apresentado pelos
autores da ação.
Segundo o tribunal, não foram apresentadas evidências de que
os livros de histórias estivessem “sendo implementados de forma a coagir,
direta ou indiretamente, os pais ou seus filhos a acreditarem ou agirem de
forma contrária à sua fé religiosa”.
‘Proteger a inocência’
Os demandantes disseram à Suprema Corte que a decisão do 4º
Circuito minou o direito dos pais de “proteger a inocência de seus filhos e
direcionar sua educação religiosa”.
Em memorando enviado ao tribunal, o conselho escolar
argumentou que o simples contato com conteúdos considerados controversos do
ponto de vista religioso pelos pais não configura violação à Primeira Emenda da
Constituição.
A organização Freedom From Religion Foundation, que atua na
defesa do secularismo, argumentou em documento enviado à Suprema Corte – em
apoio ao conselho escolar – que os pais não possuem o direito constitucional
“de garantir que todos os materiais educacionais seculares estejam de acordo
com suas crenças religiosas pessoais”.
Tal regra não teria limites porque “quase qualquer livro ou
ideia – por mais comum ou inocente que seja – provavelmente contradiz alguns
ideais religiosos”, disse o grupo.
A Suprema Corte analisou os argumentos do caso em 22 de
abril. Durante a audiência, os três ministros de orientação liberal expressaram
preocupação com a possibilidade de que as exceções concedidas a estudantes se
estendessem para além das leituras de livros infantis nas escolas públicas.
Eles citaram como exemplos questões como evolução, casamento
inter-racial e mulheres no mercado de trabalho, levantando o risco de que esses
temas também pudessem ser objeto de pedidos de dispensa por motivos religiosos.
‘casamento gay’
Durante a sessão de argumentos, o ministro conservador
Samuel Alito mencionou um dos livros infantis questionados, que apresenta um
casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Ele destacou que esse tipo de conteúdo transmite uma
mensagem moral “com a qual muitas pessoas que se apegam a crenças religiosas
tradicionais não concordam”.
Em outro caso relacionado à liberdade religiosa no contexto
educacional, a Suprema Corte dos EUA, em uma decisão empatada de 4 a 4 em 22 de
maio, impediu a implementação de uma proposta liderada por duas dioceses
católicas que buscava criar, no estado de Oklahoma, a primeira escola religiosa
financiada com recursos públicos no país.
Fonte: Guia-me com informações de Reuters
Fonte: Folha Gospel
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